22 de jan. de 2008

No sinal

Estava esperando o sinal abrir quando olhei para o lado e vi uma mulher sorrindo e sacudindo uma sacola grande de plástico branco, de um lado para o outro do corpo, batendo ora numa perna, ora na outra. Era baixa, a pele queimada do sol, gordinha e tinha um sorriso simpático.

Sem cerimônias perguntou: - A senhora mora por aqui?

- Não, moro longe, respondi.

- Ah... porque se a senhora morasse perto eu ia lhe pedir para me dar umas roupas, disse sorrindo. Neste momento percebi que não tinha dentes. Meneei a cabeça sem ter uma resposta apropriada e olhei o sinal.

Para chamar minha atenção bateu no meu braço com a ponta dos dedos, mas com uma força que chegou a doer, e disse com aquele sorriso que só as pessoas simples têm: - A senhora é muito bonita, me lembra uma patroa que tive lá em Pinheiros, há muitos anos atrás. Coitada, já morreu. Era uma pessoa muito boa. Ajudava muita gente. A senhora é muito parecida com ela.

Sem saber o que dizer, respondi: - Ainda bem que pareço com uma pessoa que lhe traz boas lembranças, não é?

- É sim!

Olhei para os carros que passavam. Bateu novamente com força no meu braço e perguntou: - O que a senhora veio fazer aqui?

Olhei para ela e percebi que era uma pergunta do tipo que se faz apenas para alongar a conversa, sem uma curiosidade efetiva e respondi: - Vim comprar material escolar.

- Ah!

O sinal abriu, comecei a atravessar a rua, imaginando que ela fosse continuar a puxar assunto caminhando a meu lado, mas não. Virei e vi que ela ainda ficou parada balançando, outra vez, a sua bolsa, com o olhar meio perdido. Talvez estivesse lembrando da sua ex-patroa e de como foi bom aquele tempo. Nunca saberei. Acenei e sorrimos.

10 de jan. de 2008

03

3 de jan. de 2008

Ao luar