7 de out. de 2007

Vastidão


Quintana, meu querido Quintana!

No sábado, na coluna do José Castello, em Elogio da preguiça, ele comentou um pouco sobre o poeta, sobre prosa, sobre Juan José Saer, Cervantes, Kafka, mas acima de tudo falava de Quintana.
Para poupar você das referências: Castello escreveu que Quintana dizia que..., vou copiar trechos.


"O verso é, antes de tudo, uma fórmula encantatória", justificava (Quintana).

Não é fácil fisgar uma prosa de Quintana, que goteja, lenta, pelas páginas. Quando lemos um romance, Saer pensava, temos o vício de buscar o apoio firme de certo “realismo”, que nos ajude a imaginar e a ler. Acontece que na escrita poética, os referentes se esfumaçam. Não é o leitor que descobre um poeta, Quintana dizia. “É o poeta que descobre o leitor, que o revela a si mesmo”
Dizia Quintana que “ser poeta não é uma maneira de escrever, é uma maneira de ser”. Também em sua prosa não há pragmatismo. Volto a Saer, um romancista em fuga da prosa, que me ajuda a ler Quintana, um poeta fora da poesia. Dizia Saer que “o pragmatismo é uma espécie de noção econômica da escrita, fundada na qualidade e na quantidade”. Como se apalpássemos tomates e depois os pesássemos em uma balança.
Arte de pragmáticos, a prosa deixa escapar a vastidão.
Para Quintana, a poesia era a única maneira de comunicar-se “com esse e com outros mundos”. Espécie de vôo cego que quanto mais parece não chegar a lugar algum, mais chega. Ao falatório da prosa, preferia a delicadeza do silêncio. “No silêncio da noite soluçam as almas pelas torneiras das pias”, escreve. Por isso repudiava a poesia falada, em recitais, em saraus, em festas literárias, ocasiões em que o poema se transforma em um “triste passarinho esgoelado”
Nem o falatório nervoso dos declamadores, nem a desqualificação sumária das palavras, mas a dor da delicadeza.
Diz-se que a poesia é dolorosa, mas Quintana sempre suspeitou dessa dor que falam
(e fogem) os pragmáticos. “O sofrimento dos poetas é muito relativo”, ele escreve. “Se um poeta consegue um dia expressar as suas dores com toda a felicidade – como é que poderá ser infeliz?”


A referência ficou um pouco grande, mas tudo aqui é pertinente.
O único comentário que quero fazer neste momento é: Quintana era de uma perspicácia ímpar.

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